Críticas ao Cenário Econômico do Futebol Argentino
O ex-jogador Juan Sebastián Verón, que atualmente ocupa a presidência do Estudiantes, voltou a expressar críticas contundentes sobre a situação econômica do futebol na Argentina. Em uma entrevista concedida à Bloomberg Línea, ele afirmou que "o negócio no futebol argentino chegou ao limite". Verón destacou que, embora seja possível competir com o futebol brasileiro, é necessário um capital robusto nas fases finais das competições, algo que os clubes argentinos não possuem.
Ele complementou sua análise, afirmando que o futebol argentino está "constantemente correndo atrás de dinheiro, vendendo cada vez mais jogadores", mas que essa estratégia não é suficiente para manter a competitividade em alto nível. "Você monta uma equipe e já está endividado, trabalha durante o próximo ano ou semestre para ver o que tem para vender, paga as dívidas e continua se endividando", acrescentou Verón.
Premiações Insuficientes
Em novembro de 2024, Verón havia criticado o valor das premiações no futebol argentino. Ele comparou os prêmios locais com os do Brasil, destacando que "não pagam nem o ônibus dos torcedores". O dirigente fez referência ao prêmio da Copa do Brasil conquistada pelo Flamengo, que totalizou R$ 93,1 milhões, com R$ 73,5 milhões correspondendo apenas à final.
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Conheça toda a ColeçãoNa Argentina, o campeão da Copa Argentina recebe somente 170 mil dólares, equivalente a cerca de R$ 985 mil. Para ilustrar a disparidade, o valor que um clube alcança ao chegar à terceira fase da Copa do Brasil é em torno de R$ 2,2 milhões. Já a antiga Copa da Liga Argentina, vencida pelo Estudiantes, oferece ao campeão um prêmio de 500 mil dólares, que representa aproximadamente R$ 2,9 milhões.
Opiniões de Especialistas
Vários especialistas concordam que as críticas de Verón têm fundamento e que a solução pode estar na abertura para a constituição das Sociedades Anônimas Desportivas (SADs) na Argentina, o que poderia resultar em mudanças significativas e mais rápidas do que as observadas no Brasil. Contudo, os benefícios seriam percebidos a médio e longo prazo.
Thiago Freitas, COO da Roc Nation Sports no Brasil, afirmou que a irresponsabilidade, o paternalismo e a demagogia que marcaram a política argentina ao longo das últimas décadas impactaram a economia do país e, por consequência, o futebol. Ele sugeriu que a constituição de SADs poderia ajudar os clubes a equilibrar forças com os brasileiros em uma década.
Fernando Lamounier, educador financeiro e diretor da Multimarcas Consórcios, comentou que a mentalidade dos dirigentes argentinos impacta a situação. Ele observou que, na Argentina, o futebol ainda é considerado um patrimônio cultural, com forte ligação à paixão popular, o que limita a exploração comercial do esporte. Em contrapartida, o Brasil tem adotado uma abordagem mais pragmática, que combina paixão com uma visão de negócios, atraindo patrocínios de grandes marcas internacionais.
Cristiano Caús, especialista em direito desportivo e gestão do futebol, ressaltou que a SAF permite a entrada de investidores qualificados, que não estão apenas interessados em emprestar dinheiro, mas sim em adquirir ações e investir em infraestrutura e elenco, com o objetivo de aumentar as receitas e valorizar ativos.
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Conheça toda a ColeçãoDesafios para a Implementação das SADs
O Estudiantes, presidido por Verón, busca se distanciar das normas estabelecidas pelos principais clubes argentinos e tenta avançar no processo de se tornar uma SAD. Talita Garcez, sócia do escritório Garcez Advogados e Associados, acredita que o clube pode romper as barreiras políticas e jurídicas que dificultam a criação de SADs na Argentina.
Garcez destacou que há um embate claro entre o governo e a AFA, e que a mudança deve ocorrer em duas frentes: a pressão política, aproveitando o discurso do presidente Javier Milei, que se mostrou favorável à abertura do futebol ao capital privado, e a via judicial, questionando a autonomia dos clubes.
Em julho de 2024, o governo argentino havia autorizado a entrada de capital privado no futebol, permitindo a transformação em SADs a partir de novembro deste ano. No entanto, o principal obstáculo ainda reside na oposição de Claudio Tapia, presidente da AFA, que conta com o apoio de clubes tradicionais como o Boca Juniors.
Oportunidades de Crescimento
A transformação dos clubes em SAFs, como exemplificado pelo Brasil, representa um caminho sem volta para investimentos dentro e fora de campo. Claudio Fiorito, presidente da P&P Sport Management Brasil, destacou que essa mudança pode trazer esperança não apenas para os clubes mais relevantes, mas também para aqueles menores, que teriam acesso a novas fontes de receita para aprimorar suas equipes e estruturas. Contudo, enfatizou que a boa gestão é crucial para o sucesso desse modelo.
Envolvimento Político e Críticas ao Modelo Atual
Verón também contou com o suporte ideológico do presidente Javier Milei, que criticou duramente o modelo de gestão atual liderado por Tapia. Após a eliminação de Boca Juniors e River Plate na primeira fase da Copa do Mundo de Clubes da FIFA, Milei utilizou suas redes sociais para elogiar o futebol brasileiro e questionar a fragilidade do campeonato argentino.
Ele afirmou que "Nem River, nem Boca. Sem argentinos no Mundial de Clubes. O Brasil foi com quatro times, os quatro passaram". Além disso, Milei criticou a falta de competitividade e os incentivos existentes no futebol argentino, apontando que o modelo atual não corresponde à grandeza do público que apoia o esporte.
Inovações no Estádio UNO
Além das iniciativas em busca de novas receitas, o Estudiantes tem implementado inovações em sua infraestrutura. O restaurante León, localizado no moderno Estádio UNO, se destacou como um diferencial, funcionando durante todo o ano e proporcionando uma experiência gastronômica que aproxima ainda mais os torcedores do clube.
Leo Rizzo, CEO da Soccer Hospitality, enfatizou que, nos dias de hoje, os estádios precisam ir além do futebol, transformando-se em espaços multifuncionais. Ele sugere que estabelecimentos como camarotes e restaurantes têm potencial para se tornarem atrações turísticas, operando durante todo o ano com eventos, shows e experiências gastronômicas, com o objetivo de fidelizar os torcedores e atrair novos públicos.
