Robertinho: De Ídolo no Fluminense a Revelador de Talentos na África
Robertinho, ex-jogador que se destacou em várias categorias do Fluminense, agora brilha como técnico e formador de novos talentos. Nesta segunda parte da entrevista, ele compartilha suas experiências e conquistas como treinador, além de sua notável trajetória no futebol africano.
A Formação de Atletas e o Caráter como Prioridade
Robertinho se destaca não apenas por sua capacidade de revelar talentos, mas também por seu compromisso em moldar o caráter de seus atletas. Durante sua passagem pelas categorias de base do Fluminense, o técnico se lembra de momentos marcantes que demonstram sua visão sobre o desenvolvimento dos jovens jogadores.
Um dos casos mais emblemáticos que ele menciona é o de Diego Souza, que estava passando por uma peneira. Robertinho percebeu que o jogador havia se machucado, mas ainda assim não hesitou em mostrar seu talento em campo. "Ele estava com a mão machucada, mas não parou. Eu sabia que ele tinha potencial. Quando eu cheguei perto dele, ele estava com o dedo fora do lugar, mas continuou jogando. Isso me impressionou", afirma Robertinho, que rapidamente o aprovou para a equipe.
Outro exemplo notável é o de Arouca. Robertinho recorda-se de um dia em que encontrou Arouca esperando há horas para ser chamado para uma peneira. "Ele estava lá, sem camisa, enfrentando o frio, esperando a sua chance. Fui até ele, dei uma camisa e conversei com o coordenador para que ele tivesse a oportunidade que merecia. E olha onde ele chegou", destaca.
Robertinho também menciona Toró, que considera o "Pelé de Xerém". "Ele tinha um talento incrível, mas infelizmente escolheu o momento errado para se transferir para o Flamengo após uma cirurgia no joelho", lamenta.
Conquistas na Base e a Chegada ao Profissional
Após se destacar nas categorias de base, Robertinho foi fundamental para a contratação de Romário pelo Fluminense em 2002. "O presidente me pediu um ídolo e eu não hesitei em recomendar o Romário. Ele se tornou meu capitão e sempre foi um exemplo dentro e fora de campo", lembra Robertinho.
Apesar de suas conquistas, incluindo títulos em várias categorias e um mundial sub-23 na Alemanha, Robertinho não obteve mais oportunidades na elite do futebol brasileiro após sua saída das Laranjeiras. Essa falta de reconhecimento o incomodou profundamente. "Eu ganhei tudo no Fluminense, mas o sistema não me deu chance. Foi um período difícil e, então, surgiu uma proposta da Tunísia".
A Oportunidade Inusitada na Tunísia
A proposta que mudou o rumo da carreira de Robertinho veio de forma inesperada. Um emissário tunisiano, chamado Cader, apareceu em sua casa com uma oferta de trabalho e um vestido para sua esposa. "Eu não esperava que alguém aparecesse assim, mas aceitei me encontrar com o presidente do clube", conta.
Após uma espera de seis dias no hotel, Robertinho quase desistiu, mas Cader o convenceu a se encontrar com o presidente. "O presidente me explicou porque me escolheu em vez de outros candidatos. Ele valorizou meu currículo e minha experiência como ex-atleta e treinador", relata.
Robertinho acabou ficando três anos no Stade Tunisien, onde teve a honra de revelar Youssef Msakni, um ídolo do futebol tunisiano e capitão da seleção local. "Foi gratificante contribuir para o crescimento de um jogador tão talentoso", afirma.
Uma Carreira Internacional no Futebol Africano
A experiência na Tunísia abriu portas para Robertinho em outros países africanos. Ele passou a trabalhar em clubes de Angola, Ruanda, Quênia, Uganda e Tanzânia, sempre enfrentando os desafios que o futebol africano apresenta. "Fui reconhecido como um dos treinadores estrangeiros de maior sucesso na África. Meu sucesso não veio porque havia muitos talentos, mas porque consegui construir confiança e respeito com os jogadores", ressalta.
Um dos principais problemas que Robertinho enfrentou foi a má alimentação e a falta de estrutura para os atletas. "Em Ruanda, muitos jogadores não tinham acesso a uma alimentação adequada. Eu tinha que comprar frutas e lanches com meu próprio dinheiro para garantir que eles tivessem energia", revela.
Desafios e Superações no Futebol Africano
Robertinho descreve a realidade de muitos clubes africanos que não oferecem as condições necessárias para o desenvolvimento de seus atletas. "Existem clubes que são fortes no campeonato, mas não têm a infraestrutura necessária. Em um deles, eu precisei pedir autorização para treinar em um campo de um shopping", conta.
Ele observa que, em um campeonato africano com 14 equipes, apenas três ou quatro conseguem fornecer boas condições de treinamento e alimentação. "Os jogadores muitas vezes precisam comprar suas próprias vitaminas e suplementos. É uma situação difícil, mas sempre procurei fazer o melhor dentro das limitações", enfatiza.
O Futuro e Novos Desafios
Ainda hoje, Robertinho mantém contato com seus ex-jogadores e continua a ser uma figura respeitada no futebol. Após sua passagem pelo Rayon Sports, de Ruanda, ele está considerando novas oportunidades para a próxima temporada, com uma possível volta ao futebol árabe, onde já trabalhou em Kuwait e Emirados Árabes. "Estou avaliando boas propostas que surgiram, especialmente na Arábia Saudita. Meu filho, Rodrigo, está me ajudando a checar as opções e em breve tomaremos uma decisão", conclui Robertinho.
A trajetória de Robertinho como jogador e treinador é uma história rica em superações, talentos revelados e desafios enfrentados. Sua dedicação ao futebol e o compromisso com o desenvolvimento de jovens atletas fazem dele uma figura respeitada, tanto no Brasil quanto no cenário internacional.